Estética
Estética (do grego aisthésis: percepção, sensação) é um ramo da
filosofia que tem por objetivo o
estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte. Ela estuda o
julgamento e a percepção do que é considerado belo, a produção das emoções
pelos fenômenos estéticos, bem como: as diferentes formas de arte e da técnica artística; a ideia de obra de arte e de criação; a relação
entre matérias e formas nas artes. Por outro lado, a estética também pode
ocupar-se do sublime, ou da privação da
beleza, ou seja, o que pode ser considerado feio, ou até mesmo
ridículo.
Antiguidade
Aristóteles e Platão -
a estética era estudada fundida com a lógica e
a ética. O belo, o bom e o verdadeiro formavam uma unidade com a obra. A
essência do belo seria alcançada identificando-o com o bom, tendo em conta os
valores morais.2 Na Idade Média surgiu
a intenção de estudar a estética independente de outros ramos filosóficos.
No âmbito do Belo, dois aspectos fundamentais podem
ser particularmente destacados:
·
a
estética iniciou-se como teoria que se tornava ciência normativa às custas dalógica e
da moral -
os valores humanos fundamentais: o verdadeiro, o bom, o belo. Centrava em certo
tipo de julgamento de valor que enunciaria as normas gerais do belo (ver cânone estético);
·
a
estética assumiu características também de uma metafísica do
belo, que se esforçava para desvendar a fonte original de todas as belezas
sensíveis: reflexo do inteligível na matéria (Platão),
manifestação sensível da ideia (Hegel), o belo natural e o belo arbitrário
(humano), etc.
Mas este caráter metafísico e conseqüentemente dogmático da estética
transformou-se posteriormente em uma filosofia daarte, onde se procura
descobrir as regras da arte na própria ação criadora (Poética)
e em sua recepção, sob o risco de impor construções a priori sobre o que é o belo.
Neste caso, a filosofia da arte se tornou uma reflexão sobre os procedimentos
técnicos elaborados pelo homem, e sobre as condições sociais que fazem um certo
tipo de ação ser considerada artística.
Para além da obra já referida de Baumgarten -
infelizmente não editada em português -, são importantes as obras Hípias Maior, O Banquete e Fedro, de Platão, a Poética, de Aristóteles, a Crítica da Faculdade do Juízo, de Kant e Cursos de
Estética de Hegel.
Grécia
Antiga
Sócrates, um dos mais notórios pensadores gregos, foi um dos
primeiros a refletir sobre as questões da estética. Nos diálogos de Sócrates
com Hípias, há uma refutação dos conceitos tradicionalmente atribuídos ao belo,
ele não irá definir o que é belo julgando-se incapaz de explicar o belo em si.
Platão entendeu que os objetos incorporavam uma proporção, harmonia,
e união,
buscou entender estes critérios. O belo para Platão estava no plano do ideal,
mais propriamente a ideia do belo em si era colocada por ele como absoluto e
eterno, não dependeria dos objetos, ou seja, da materialidade, era a própria
ideia de perfeição, estava plenamente completo, restando ao mundo sensível
apenas a imitação ou a cópia desta beleza perfeita.
Platão dissociava o belo do mundo sensível, sua
existência ficava confinada ao mundo das ideias, associando-se ao bem, a
verdade, ao imutável e a perfeição.
Para Platão somente a partir do ideal de beleza
suprema é que seria possível emitir um juízo estético, portanto definir o que
era ou não belo, ou o que conteria maior ou menor beleza. Por estar fora do
mundo sensível o belo platoniano está separado também da intromissão do
julgamento humano cujo estado é passivo diante do belo. Ele estabelecia uma
união inseparável entre o belo, a beleza, o amor e o saber.
O belo em Platão serviria para conduzir o homem à
perfeição, ao qual restaria a cópia fiel e a simulação, estas concepções
filosóficas vão permear a arte grega e ocidental por um longo período, até o
século XVIII, com momentos históricos de maior ou menor ênfase no fazer
artístico.
Aristóteles,
discípulo de Platão, ao contrário de seu mestre, concebeu o belo a partir da
realidade sensível, deixando este de ser algo abstrato para se tornar concreto,
o belo materializa-se, a beleza no pensamento aristotélico já não era imutável,
nem eterna, podendo evoluir.
Aristóteles dará o primeiro passo para a ruptura do
belo associado à ideia de perfeição, trará o belo para a esfera mundana,
colocará a criação artística sob a égide humana, já não mais separado do homem
mas intrínseco a ele.
Com Aristóteles abrem-se às perspectivas dos
critérios de julgamento do fazer artístico, conferindo ao artista a
possibilidade de individuação. O belo aristotélico seguirá critérios desimetria,
composição, ordenação, proposição, equilíbrio.
As concepções do belo de Aristóteles ficam por um
longo período esquecidas, sendo somente retomadas ao final da Idade Média.
Modernidade
Filosofia do belo na arte é a designação aplicada a
partir do século XVIII, por Baumgarten, à ciência filosófica que
compreendeu o estudo das obras de arte e
o conhecimento dos aspectos da realidade sensorial classificáveis em termos de
belo ou feio.
Os conceitos do belo seguem o rumo da
apreciação, da fruição e da busca pelo juízo universal, pela verdade última de
sua definição. A revolução francesa traz novos ares ao mundo, e o engatinhar da
revolução industrial traz novas luzes ao pensamento humano. Vários filósofos se
preocuparam com o belo durante este período, entre eles cita-se Hume e Burke,
que deixaram, cada um contribuições valiosas na tentativa de definição dos
conceitos e parâmetros do belo, mas nenhum foi tão importante quanto Kant, cuja contribuição
foi decisiva nas tentativas de explicação do belo.
A maioria dos autores das teorias estéticas tomam
Kant como referencial principal em suas obras: após Kant apresentar suas teorias,
nenhum outro filósofo depois dele deixou de o citar - refutando ou concordando,
todos o mencionam. Os conceitos sobre o belo elaborados por Kant transformaram
em definitivo o juízo estético. Kant irá mudar as bases do juízo estético
ocidental que até ele vinculavam as obras de arte e a beleza natural ao
sobrenatural. A beleza até então era algo que a razão não poderia
compreender, a arte era quem transpunha o incognoscível absoluto e pelos símbolos trazia
o ideal para
o real.
O que tornava a arte apreciável até então era o prazer do deleite com o belo, a
influência moral que exercia sobre natureza humana.
Para Kant, o juízo estético é oriundo do sentimento e
funciona no ser humano como intermediário entre a razão e
o intelecto.
A função da razão é prática já função do intelecto é elaborar teorias sobre
os fenômenos. Os fenômenos que são percebidos pelos sentidos através da
intuição, transformam-se em algo compreensível o que permitiria a emissão de um
juízo estético. Tal juízo não conduziria a um conhecimento intrínseco do
objeto, portanto não teria um valor cognitivo, nem tampouco seria um juízo
sobre a perfeição do objeto ou fenômeno, sendo correto independentemente dos
conceitos ou das sensações produzidas pelos objetos.
Os sentimentos de prazer e
desprazer em Kant estão ligados as sensações estéticas e pertencem ao sujeito,
são estes sentimentos subjetivos, não lógicos que
emitem o conceito do belo, são eles que formam o juízo do gosto. A percepção de
um objeto ou fenômeno que instiga a sensação de prazer provoca a fruição ou
gozo e a essas sensações damos os nomes de belo, bonito e beleza. A questão do
belo seria então algo subjetivo, e por ser subjetivo é livremente atribuído,
sem parâmetro, fundado na “norma pessoal”. São os
sentimentos oriundos das sensações agradáveis que emitem o juízo do belo,
induzindo o desejo de permanecer usufruindo tais sensações. O interesse
imediato diante das sensações prazerosas é a continuidade.
Kant afirmava ser impossível encontrar regras
teóricas para a construção de belos objetos. E é impossível porque, quando
julgam que um objeto se inclui em certo princípio geral ou se conforma com esta
ou aquela regra, estão fazendo um juízo intelectual dessa ordem, não podendo
“inferir que ele é belo”. A beleza não dependeria de provas intelectivas, mas
sim do senso de prazer gerado. O prazer é a ligação principal que Kant faz com o belo, por ser um prazer
subjetivo, ele é desprovido do sentido de conhecimento, não está vinculado à
realidade de um objeto ou fenômeno, o prazer que o belo proporciona vem apenas
das representações sensivelmente apreendidas.
Hegel foi outro grande filósofo que, após Kant,
dedicou-se ao estudo do belo. Hegel parece concordar de certa maneira com
Platão, ao abordar a questão do ideal e do belo. Sobre a beleza Hegel diz que
“a beleza só pode se exprimir na forma, porque ela só é manifestação exterior
através do idealismo objetivo do ser vivente e se oferece à nossa intuição e
contemplação sensíveis”
Uma profunda análise sobre o ideal é um dos focos
de Hegel, ao ideal ele atribui todos os conceitos morais e espirituais,
pertencentes à natureza humana que são transfigurado pelo imaginário em formas
atribuídas a deuses ou
seres superiores a si mesmo, tal ideal segundo ele seria uma tentativa de
transpor a realidade dura e cruel da vida cotidiana e ao mesmo tempo
projetar para si mesmo exemplos a serem seguidos. A beleza funciona para Hegel
como a expressão máxima do Ideal. O ideal clássico “só
representa o modo de ser do espírito, o que nele há de sublime funde-se na
beleza, é diretamente transformado em beleza”.
Para Hegel o belo é algo espiritual, para definir o
belo como algo espiritual, parte da premissa da inexistência material do belo,
colocando-o na categoria de conceito sem realidade física,
portanto, pertencente ao plano espiritual, ao plano da imaginação do sujeito.
Hegel definiu a estética como a ciência que
estuda o belo, conferindo a estética à categoria de ciência filosófica. Sua
análise do belo é basicamente em cima do belo artístico, relegando o belo
natural a um segundo plano. “para justificar esta exclusão, poderíamos dizer
que a toda a ciência cabe o direito de se definir como queira”. Uma análise
detalhada das diferenças do belo artístico e do belo natural, foi feita por
Hegel, privilegiando o belo artístico por considerá-lo superior, tecendo
explicações sobre tal superioridade.
Hegel vai tomar como base o belo em si, e deixa
de lado os objetos belos, que segundo ele são tidos como belos por motivos
diversos. “Não nos perturbam, portanto, as oposições entre os objetos
qualificados de belos: estas oposições são afastadas, suprimidas(…). Nós
começamos pelo belo como tal”. Acaba por determinar que “só é belo o que possui
expressão artística”
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