segunda-feira, 12 de março de 2012

PERÍODOS DA FILOSOFIA

PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO: (séc. VII-V a c.) Os pensadores se preocupavam com problemas cosmológicos, suas indagações eram como surge o cosmo, qual o seu princípio? Quais as fases e os momentos da sua geração etc. É esta problemática que absorve toda a primeira fase da filosofia grega. Período Naturalista, em que o interesse filosófico é voltado para o mundo da natureza. Afirmavam que as coisas existem em si mesmas, independente da consciência que as pensam. Está ideologia assumi o ponto de vista realista. Esse realismo é, portanto, uma concepção filosófica, situada no plano ontológico, que afirma a existência de uma realidade exterior à mente humana, independentemente do conhecimento que o homem tenha dela. Estudar o mundo exterior nos elementos que o constituem, na sua origem e nas contínuas mudanças a que está sujeito é a grande questão que dá a este período seu caráter de unidade. Surge e floresce fora da Grécia propriamente dita, nas prósperas colônias gregas da Ásia Menor, do Egeu (Jônia) e da Itália meridional, da Sicília. Os filósofos desse período podem ser divididos em quatro escolas: Jônica, Itálica, Eleática e Atomística.

ESCOLA JÔNICA: preocupava-se em achar a substância única, a causa, o princípio do mundo natural, vário, múltiplo e mutável. Floresceu em Mileto e seus expoentes mais conhecidos são: Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto e Anaxímenes de Mileto. Os Jônios posteriores que têm seu grande expoente em Heráclito de Éfeso distinguem-se por imprimirem outra orientação aos estudos cosmológicos, encarando o universo no seu aspecto dinâmico, e procurando resolver o problema do movimento e da transformação dos corpos.

Tales (624-548 a C.) é considerado o fundador da escola jônica e o mais antigo filósofo grego, para ele, a água era a substância única de todas as coisas. A terra era concebida como um disco boiando sobre a água, no oceano. Foi matemático e astrônomo, e predisse pela 1ª vez entre os gregos, os eclipses do sol e da lua, estudou o movimento dos astros para orientar a navegação, mas nada escreveu. De seu pensamento só restam interpretações formuladas por outros filósofos que lhe atribuíram a idéia básica, a de que tudo se origina da água.

Anaximandro (611-547 a C.) era geógrafo, matemático, astrônomo e político, discípulo e sucessor de Tales, coloca como princípio universal uma substância indefinida a que chamava de ápeiron (ilimitado), imagina a terra como um disco suspenso no ar, o ápeiron está em constante movimento, e disto resulta uma série de pares opostos como água e fogo, frio e calor etc., que constituem o mundo. O ápeiron é algo abstrato, que não se fixa diretamente em nenhum elemento palpável da natureza. Ampliando o conceito de Tales, foi o primeiro a formular a idéia de uma lei universal presidindo o processo cósmico total.

Anaxímenes (588-524 a C.) para ele o mundo é comandado pelo ar, um elemento não tão abstrato como o ápeiron, nem palpável demais como a água. Tudo provém do ar, através de seus movimentos: o ar é respiração e é vida, o fogo é ar rarefeito, a água, a terra, a pedra são formas cada vez mais condensadas do ar.

O questionamento que dominou a filosofia pré-socrática foi: qual seria o primeiro elemento, a partir do qual se comporiam e decomporiam as demais coisas.
Havendo Tales de Mileto proposto que este princípio seria a água - deu abertura a um questionamento de difícil solução, dada a precariedade dos recursos de observação do seu tempo, e que ainda hoje não são suficientes.
As razões que levaram Tales a estabelecer a água como princípio de todas as coisas podem ser examinadas sob vários enfoques, desde o apoio dos mitos, passando pelas preocupações científicas nascentes da época, até as tentativas de provas objetivamente examinadas.
Daqui para a frente, para a investigação da história da filosofia, o que importa nas informações, não são mais o informe sobre a água, mas sim as razões que conduziram este questionamento. Sugestões dos mitos sobre a água, no sentido de elegê-la como elemento primordial que contribuiu certamente na literatura mítica, a qual não deixou de ser citada pelos comentaristas posteriores.

COMO RELACIONAM A QUESTÃO:

Ainda que não por argumentos racionais, a água exerce significativa função nas cosmogonias míticas. Por isso, a hipótese de Tales teve facilidade de aceitação, ainda que ele a tenha levado com base em observações objetivas.
Advertiu Aristóteles, sobre o apoio dos mitos à hipótese de Tales, no qual ele destaca a água como elemento primordial, mencionando as cosmogonias míticas:

"Segundo alguns, também os antigos, aqueles que muito antes de nós viveram e que primeiro discorreram a cerca dos deuses, da mesma maneira consideravam a natureza, pois fizeram do Oceano e de Tétis os autores de toda a geração, e da água a testemunha do juramento dos próprios deuses, aquela água que os poetas denominaram Estige. Com efeito, o mais venerando é o mais antigo, e aquilo por que se jura, o mais venerando.” (Pensamento da Escola Jônica)

A água assume uma primordial importância na ciência da antiguidade. Mas é preciso nos advertir que a ciência do tempo de Tales se preocupava, quase que exclusivamente, e por diversas razões, com a água.
Os exemplos sobre o caráter aquoso de tudo poderá ter sido um saber vindo da medicina, que nos prístinos tempos da Grécia principia a dar seus primeiros passos.
A água, de que falou Tales, deve ser entendida como elemento comum do qual tudo provêm.
Não se pode compreender a afirmativa de Tales apenas no moderno sentido de água, como um elemento composto de oxigênio e hidrogênio. Na hipótese de Tales, o que importava em primeiro plano era dizer, que devia haver um elemento de base a partir do qual tudo se faria. Neste sentido geral de sua hipótese, nada mudaria essencialmente se outro, que não a água, fosse este primeiro elemento.
Os seres não seriam cada um novo elemento específico. As transformações não se fariam pelo aparecimento de uns seres e desaparecimento de outros. Tudo é fundamentalmente constante. Nada se faz em termos absolutos, nem desaparece em absoluto. Nada se cria, e nada morre tudo se transforma, como que em ciclos.
Tales também quer como depois se darão os detalhes, que um só é o elemento básico de tudo, inclusive do mundo psíquico e divino. Eis o monismo filosófico, que vê a unidade de todo o ente. Errado ou certo raciocinou Tales com método, com análises e sínteses. Ele já se distancia do pensamento simplista, que é incapaz de raciocinar sistematicamente.
A tendência da filosofia pré-socrática foi o monismo metafísico, desde seu início. E este monismo, sobretudo para os filósofos jônicos, é materialista.
Além do monismo no plano metafísico, ocorre a mesma questão no plano da natureza - a de se saber se o corpo e o espírito são duas substâncias irredutíveis (dualismo), ou se são manifestações de uma só (monismo, ou reducionismo, ou materialismo espiritualista).
Para os filósofos pré-socráticos da Escola Jônica (antiga e nova) corpo e espírito não são irredutíveis.
Tales concebeu toda a matéria como tendo a função da vida. Isto não resulta da convivência dualista, de vida e espírito, com a matéria, e sim na universalidade da presença da vida e do espírito como elemento intrínseco à mesma matéria.
Então o que importa entender, é que a filosofia das escolas jônicas tendia para o monismo, quer no plano metafísico, quer no plano da natureza.
O Estudo do Homem não era o ponto de partida para as análises filosóficas. Porém, os pré-socráticos não esqueceram totalmente o Homem, ainda que enfatizassem a investigação sobre a natureza. Isso não fora mesmo possível, porque também o Homem é parte da mesma.
Citam-se as seguintes palavras de Aristóteles se referindo ao que seria a sua doutrina fundamental:

“ Tales diz que o princípio é a água pelo que ele sustentava que a própria terra está fundada sobre a água. Para afirmar isso ele se apoiava no fato de que via que o alimento de todas as coisas é o úmido e inclusive o que é quente nasce e vive no úmido. Ora aquilo de que tudo se engendra é o princípio de tudo. Por isso, Tales aderiu a tais conjecturas, e ainda mais porque as sementes de todas as coisas possuem natureza úmida e a água nas coisas úmidas é o princípio de sua natureza.”

HERÁCLITO DE ÉFESO: nasceu em Éfeso, cidade da Jônia, de família que ainda conservava prerrogativas reais (descendentes do fundador da cidade). Seu caráter altivo, misantrópico e melancólico ficou proverbial em toda a antigüidade. Desprezava a plebe. Recusou-se sempre a intervir na política. Manifestou desprezo pelos antigos poetas, contra os filósofos de seu tempo e até contra a religião. Sem ter sido mestre, Heráclito escreveu um livro Sobre a Natureza, em prosa, no dialeto jônico, mas de forma tão concisa que recebeu o cognome de Skoteinós, o Obscuro. Floresceu em 504-500 a.C. - Heráclito é por muitos considerados o mais eminente pensador pré-socrático, por formular com vigor o problema da unidade permanente do ser diante da pluralidade e mutabilidade das coisas particulares e transitórias. Estabeleceu a existência de uma lei universal e fixa (o Lógos), regedora de todos os acontecimentos particulares e fundamento da harmonia universal, harmonia feita de tensões, "como a do arco e da lira.”

“NO MESMO RIO ENTRAMOS E NÃO ENTRAMOS, SOMOS E NÃO SOMOS.”

PERÍODO SOCRÁTICO

Sócrates é conhecido através de Aristófanes, que o denigre sob uma visão caricatural; também temos a visão dada por Xenofonte, que o reduz a uma imagem simplista; e por fim de Platão, que lhe dá uma estatura fundamental na história da filosofia.
No ano de 399 a.C., Sócrates foi acusado de "introduzir novos deuses" (as "vozes interiores divinas" que ele afirmava ouvir na cabeça) e corromper os jovens, além de não acreditar nos deuses venerados. Sócrates, por outro lado, não escondia acreditar que seria melhor para o Estado ser governado por uma só pessoa, que ele qualificava como "aquele que sabe". Alguns consideravam os pontos de vista de Sócrates uma ameaça à estrutura da vida em Atenas, pois o governo da cidade foi uma das primeiras democracias do mundo e preocupado com a influência antidemocrática de Sócrates sobre os jovens aristocratas (entre eles Platão) envolvidos no pensamento socrático, um júri de 501 membros o declarou culpado, por pequena maioria.
Ele poderia ter pedido clemência. Poderia ter salvado a vida concordando em sair de Atenas. Mas, agindo desse modo, Sócrates não teria sido coerente consigo mesmo. Para ele, a consciência - e a verdade - tinham mais valor do que a vida.. Assegurou ao júri que agira apenas pelo melhor dos interesses do Estado, mas foi condenado a tomar cicuta. Embora lhe preparassem a fuga de Atenas, preferiu cumprir a pena. Pouco depois da sentença, bebeu do veneno na presença de amigos e morreu. A democracia fracassava, ao permitir sua condenação e morte - e esse era, certamente, o plano de Sócrates.
A Atenas da época de Sócrates era um importante centro de debates, visitado por todos os grandes pensadores de então. Um desses grupos de filósofos itinerantes era chamado de sofista. Os sofistas ensinavam por dinheiro, ao mesmo tempo que afirmavam que as indagações da filosofia, os enigmas do universo, jamais seriam respondidas pelo mortal - uma perspectiva filosófica conhecida como ceticismo. Com os sofistas e Sócrates, o centro da reflexão filosófica grega deslocou-se dos problemas cosmológicos para os problemas humanos, particularmente a ética. E, para Sócrates, a virtude se identificaria com o saber: o homem só agiria mal por ignorância.
Assim como os sofistas, Sócrates tinha mais interesse no homem e em seu lugar na sociedade do que nas forças da Natureza. Ao contrário deles, Sócrates jamais recebeu dinheiro em troca de ensinamentos, e se distinguia dos sofistas em um outro aspecto bastante importante: Sócrates não se considerava um "sofista" - ou seja, uma pessoa erudita ou sábia. Tendo encontrado a sociedade ateniense minada pela demagogia e pelas repercussões negativas da desastrosa Guerra do Peloponeso, o filósofo teria se empenhado, a partir dos 40 anos, na reestruturação moral de seus concidadãos. Passou, então, a viver nas ruas de Atenas ensinando a virtude e a sabedoria. Não aceitava pagamento por isso e tampouco aceitou cargos públicos. Opôs-se aos sofistas, afirmando que o conhecimento é possível e que seu objeto primordial é a própria alma. “Ele achava que o filósofo é aquele que admite não entender inúmera coisas, e que se aflige com isso. Nesse sentido, o filósofo ainda é mais sábio do que aqueles que se orgulham do conhecimento que têm das coisas sobre as quais, na verdade, nada sabem. Sócrates declarou: ‘Só sei que nada sei.’ ”.
Embora colocasse em constante dúvida a extensão de seu conhecimento (um método que Descartes usaria cerca de dois mil anos mais tarde), Sócrates achava possível um homem alcançar verdades absolutas acerca do Universo. Ele sentia a necessidade de estabelecer uma base sólida para nosso conhecimento, um alicerce que, segundo ele, estaria na razão do homem. Com essa inabalável crença na razão humana, Sócrates era decididamente um racionalista.
Ele afirmava que era guiado por uma voz interior divina, e que essa "consciência" lhe dizia que ele estava certo. Ele disse: "Aquele que conhece o bem faz o bem". Com isso, queria dizer que o entendimento justo leva à ação justa. E só o justo pode ser um "homem virtuoso". Quando agimos erradamente é porque nada sabemos.. Sócrates estava interessado em descobrir definições claras e universalmente válidas para o certo e o errado. Ao contrário dos sofistas, ele achava que a capacidade de distinguir o certo do errado está na razão das pessoas e não na sociedade.
A natureza essencial da arte de Sócrates está no que ele parecia não querer ensinar as pessoas. Pelo contrário, dava a impressão de desejar aprender com aqueles com quem conversava. Em vez de dar aulas como um mestre tradicional, debatia, simplesmente fazendo perguntas - principalmente para começar uma conversa - como se nada soubesse. Ao longo dos debates, em geral levava os oponentes a reconhecer a fraqueza de seus próprios argumentos e, ‘encostados contra a parede’, finalmente compreender o que estava certo e o que estava errado.
Partindo da consciência da própria ignorância ("Só sei que nada sei"), utilizava como método não a exposição, mas a dialética (aqui com o sentido de arte do diálogo e da discussão), que podia assumir duas formas distintas:

• a ironia socrática, com a qual alegava ignorância em assuntos de que os outros se julgavam profundos conhecedores, apenas para demolir suas opiniões, levando o interlocutor à contradição e, desse modo, a purificar o espírito de idéias falsas e preconceitos. Ao se passar por ignorante, Sócrates obrigava as pessoas a usar o senso comum. Ele não hesitava em agir desse modo na praça da cidade;
• a maiêutica (arte de partejar os espíritos, numa alusão à profissão materna), pela qual Sócrates auxiliava o interlocutor a encontrar a resposta por meio de um trabalho de reflexão; em outras palavras, Sócrates via como sua tarefa ajudar as pessoas a "dar à luz" a compreensão correta, uma vez que o verdadeiro entendimento deve vir do interior. Ele não pode ser transmitido por outra pessoa. E só o entendimento que vem de dentro pode levar ao verdadeiro conhecimento.
A vida e o pensamento de Sócrates fascinaram os filósofos ocidentais e suscitaram uma admiração quase mística em Rousseau, Kant e Hegel, ao mesmo tempo que uma rejeição exemplar em Nietzsche, que via nele o aniquilador do mito em nome da razão.

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